Novo curso capacita professores a lidar com desinformação e cuidar da saúde mental na internet

Novo curso capacita professores a lidar com desinformação e cuidar da saúde mental na internet

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22/10/2024

Formação aborda temas como desinformação e bem-estar na internet, apoiando educadores a levar esse tema para a sala de aula

Educador, já parou pra pensar em quantas horas por dia você passa conectado à internet? E os seus estudantes, quanto tempo ficam em frente às telas, zanzando infinitamente nos cliques viciantes das redes sociais?

Essa é uma questão que perpassa o ambiente escolar. Porém, é cada vez mais importante que a escola seja um espaço que estimule o uso saudável da internet, de forma que tanto professores quanto estudantes não adoeçam física ou mentalmente por conta do uso excessivo das telas.

Os debates acalorados sobre o uso do celular em sala de aula são também um sinal de que este tema deve ser discutido com urgência, mas também com a profundidade necessária. 

Nesse cenário complexo e desafiador para os educadores brasileiros, a plataforma Escolas Conectadas lança o curso “Bem-estar, saúde mental e desinformação on-line: aprofundando habilidades de cidadania digital”. Totalmente gratuito e com carga horária de 20h, a formação é idealizada pela SaferNet Brasil, organização que promove os direitos humanos na internet, e busca facilitar e ampliar a incorporação deste tema nas salas de aula e nos projetos pedagógicos. Os educadores que completarem o curso receberão um certificado emitido por instituição reconhecida pelo MEC. 

Uso seguro no dia a dia

Para se ter uma ideia do tamanho deste desafio, a última edição da pesquisa TIC Educação mostrou que, em 64% das escolas de Ensino Fundamental e Médio no país, os estudantes podem utilizar o celular apenas em determinados espaços e horários, enquanto 28% das instituições educacionais não permitem o uso do dispositivo. 

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o controle é ainda maior: a proporção de escolas que proíbem a utilização do celular passou de 32% em 2020 para 43% em 2023. Já nos anos finais do Ensino Fundamental, a porcentagem subiu de 10% para 21% no mesmo período. No Ensino Médio, contudo, a realidade é bem diferente: apenas 8% das instituições proíbem o uso do celular na escola.

“É cada vez mais evidente que a educação para o uso seguro, consciente, responsável e crítico das tecnologias deve fazer parte do dia a dia das escolas na construção ativa de uma cidadania digital”, afirma Guilherme Alves, gerente de projetos na Safernet Brasil. Para ele, isso não significa dizer que é necessário inserir tecnologias digitais em toda prática pedagógica ou não ter regras para uso de celulares e outros dispositivos pessoais. “Pelo contrário, essas regras devem existir e a adoção de tecnologias na prática docente deve ser feita de maneira criteriosa, em especial diante da proliferação de plataformas educacionais com sérios problemas de privacidade e dos inúmeros problemas de distração durante as aulas.”

Debate crítico e participativo

Amadurecer essa discussão é um dos principais objetivos do novo curso, segundo Guilherme, entendendo que as escolas são espaços para debater de forma crítica e participativa como o uso de tecnologias afeta profundamente a vida dos estudantes e dos professores. Afinal, os profissionais da educação são cada vez mais demandados para lidar com problemas decorrentes do mau uso ou do impacto negativo dessas tecnologias na vida dos estudantes, dentro e fora do espaço escolar.

“Aproximar os educadores deste universo pode não só significar que estejam preparados para lidar com questões que fazem parte da vida de seus estudantes, mas também para que incorporem em suas práticas pedagógicas temas e metodologias que engajem crianças e adolescentes em uma visão crítica e responsável de suas realidades, on e off-line”, observa o especialista. 

“É claro que professores, que principalmente na educação básica já vivem muito sobrecarregados, não devem apenas ser demandados para mais uma tarefa. É essencial apoiá-los e investir em formação continuada, por isso o curso é uma oportunidade importante para que educadores de todo o Brasil estejam mais preparados para esses desafios.”

Impactos na vida dos estudantes

Entre as principais atividades de crianças e adolescentes na internet hoje estão o uso de redes sociais, o consumo de vídeos e músicas e a troca de mensagens instantâneas. Com a entrada cada vez mais cedo nesse universo, existe uma preocupação crescente sobre o impacto de alguns tipos de conteúdos e também de hábitos de uso não saudável na saúde física e mental desse público.

Para Guilherme, o design das redes e de jogos favorece o uso por horas a fio, comprometendo outras atividades e o pleno desenvolvimento físico e cognitivo. “Os impactos na saúde mental são visíveis, seja pela comparação social da vida aparentemente perfeita dos influenciadores nas redes, seja pelo contato com conteúdos nocivos envolvendo sexo, hábitos de vida não saudáveis, automutilação, suicídio, radicalização e outros temas sensíveis”, analisa. 

Nesse cenário, o que podemos entender como um uso saudável do ambiente virtual? “O bem-estar online envolve uma série de habilidades que as crianças e adolescentes podem adquirir com a mediação de suas famílias e professores, respeitando um tempo de tela saudável, sabendo evitar alguns tipos de conteúdos nocivos e também sabendo procurar ajuda ou ajudar seus pares diante de violências on-line”, acredita, reforçando que “nada disso é possível sem que as redes sociais e outras aplicações tenham regulações firmes que coíbam a circulação de conteúdo criminoso e nocivo a crianças e adolescentes”.

Cidadania digital na BNCC

Outra característica marcante do ambiente digital hoje é a desordem informacional. Por isso, habilidades como leitura crítica de informações, uso de ferramentas de checagem de fatos e uso consciente das mídias também são essenciais para priorizar a saúde mental. “As discussões sobre uso seguro, consciente e crítico, incluindo bem-estar, saúde mental e desinformação online, já são uma prerrogativa curricular, estabelecida tanto na competência de cultura digital da Base Nacional Comum Curricular, de 2017, quanto mais recentemente pelo complemento da BNCC sobre ensino de computação, de 2022”, relembra Guilherme.

Transversais, esses temas podem ser incorporados em sala de aula nos mais diferentes componentes curriculares, além de componentes específicos sobre uso de tecnologia e cidadania digital, que já têm sido implementados por muitas redes de ensino. “Nesse sentido, entendemos que o curso é importante para professores de todas as áreas de formação, que poderão adquirir formação e também dicas de como abordar os temas em sala de aula de forma participativa”, finaliza.

Semana Brasileira de Educação Midiática

Aos educadores que queiram se aprofundar ainda mais no tema, fica o convite para participarem da 2ª Semana Brasileira de Educação Midiática, que acontece de 29 de outubro a 1⁰ de novembro. Organizada pela Secretaria de Comunicação Social do governo federal, o evento debaterá temas como integridade da informação, jornalismo, mudanças climáticas e direitos no ambiente digital. Será uma oportunidade para promover a troca de saberes e experiências entre educadores, estudantes, ativistas e cidadãos de todo o país, fortalecendo uma educação midiática que respeite e valorize as vozes de todas as regiões. Saiba mais!