A incorporação de Competências Digitais na prática pedagógica vai muito além de conhecer ferramentas

A tecnologia já faz parte do dia a dia dos estudantes brasileiros, mas será que os professores estão preparados para usá-la de forma eficaz na educação?

Segundo a pesquisa TIC Educação 2022, três em cada quatro docentes de Ensino Fundamental e Médio do país afirmam ter integrado tecnologias digitais às atividades de ensino e aprendizagem. Porém, incorporar Competências Digitais na prática pedagógica vai muito além de conhecer ferramentas: é preciso saber como aplicá-las de maneira estratégica para potencializar o aprendizado.

De acordo com uma nota técnica publicada pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), os professores devem ser capazes de integrar a tecnologia de forma transversal e, para isso, é fundamental que estejam preparados para adaptar suas práticas docentes à rotina da sala de aula.

Trilha Caminhos Digitais

No início de junho, a plataforma Escolas Conectadas lançou a Trilha Caminhos Digitais, uma série de cursos on-line que apoia professores e gestores a evoluírem as suas Competências Digitais, em busca de dominar a tecnologia e ser um líder da inovação em sua escola. As formações são 100% gratuitas e contam com emissão de certificado de uma instituição reconhecida pelo MEC.

Para que essa evolução aconteça com mais efetividade e de forma complementar à Trilha Caminhos Digitais, as redes estaduais e municipais de educação podem contar com profissionais que auxiliem os professores e as escolas no uso de tecnologia educacional. Estes profissionais são chamados de multiplicadores e dão apoio pedagógico aos educadores, sendo capazes de integrar diferentes áreas de conhecimento e traçar planos estratégicos para adoção de recursos digitais.

Prática pedagógica com camadas digitais

Professora multiplicadora em quatro escolas das redes municipais de Recife e Olinda, Noeme Araújo tem acompanhado diversos projetos pedagógicos que dão centralidade para a tecnologia em suas metodologias. “Quando chego na escola, apresento iniciativas e programas que fazem parte da rede, e como estou o tempo todo em contato com as ferramentas digitais, começo a dar ideias do que é possível fazer para incrementar as práticas pedagógicas”, informa a multiplicadora.

Noeme acredita que os professores devem estar atentos para a mudança que o universo da educação vem atravessando com a consolidação dos recursos digitais de aprendizagem. “Aqui em Recife, esse professor tem muitas ferramentas em sua mão, e nós multiplicadores o ajudamos a unir a parte pedagógica com a tecnologia, para que seu trabalho em sala de aula possa ter camadas digitais e também metodologias ativas, nas quais os estudantes sejam protagonistas.”

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A multiplicadora, que faz parte da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, ajudou a colocar em prática, por exemplo, um projeto de robô que apoia na separação do lixo na comunidade do entorno da escola. “O professor incentivou sua turma a solucionar um problema local, e a gente destrinchou junto o passo a passo necessário para tirar o projeto do papel.  Então, seus estudantes desenvolveram a programação do robô”, conta. 

Em outro projeto, Noeme ajudou uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) a criar um site para fortalecer o comércio ao redor da escola. A professora pediu para os estudantes fotografarem estabelecimentos comerciais e de serviço, colherem informações e publicarem na internet. A página também tinha a intenção de conscientizar a comunidade sobre a importância de controlar os focos de aedes aegypti em um período de surto de dengue.

Diversificação dos recursos didáticos

Em entrevista para o blog do Escolas Conectadas, Izabella Cavalcante, gerente do CIEB, afirmou que o desenvolvimento de Competências Digitais docentes é parte estruturante do processo de incorporação das tecnologias no ensino, ao possibilitar a aplicação de metodologias mais interativas e favorecer a personalização da aprendizagem e o engajamento dos estudantes. 

“Além disso, professores com Competências Digitais conseguem empregar com intencionalidade pedagógica recursos educacionais digitais que permitem a diversificação dos recursos didáticos, ampliando as possibilidades de ensino com vídeos, simulações, jogos educativos e plataformas adaptativas, que podem auxiliar no acompanhamento do progresso individual dos estudantes”, afirma Izabella.

Um dos mitos que mais circula no universo docente é de que os professores serão substituídos pelas novas tecnologias. A especialista faz questão de argumentar contra essa visão: “é necessário compreender que o papel do professor vai muito além do que qualquer tecnologia digital possa oferecer, e que a sua intervenção no processo de aprendizado pode ser potencializada por meio de ferramentas diversificadas e inovadoras. Tornar as aulas mais atrativas para os estudantes é fundamental em um cenário em que as perguntas podem ser facilmente respondidas por ferramentas de pesquisa e de inteligência artificial.”

Para que isso aconteça, portanto, é essencial que os educadores sejam preparados para utilizarem ferramentas digitais de forma estratégica, estimulando o aprendizado de maneira crítica e reflexiva. “Nesse contexto, a formação em Competências Digitais deve fazer parte das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento de professores, de forma que esses profissionais se sintam mais seguros e estimulados”, finaliza Izabella.