
Após formação, professora elabora disciplina para discutir a cidadania digital
Curso gratuito “Cidadania digital: educando para o uso consciente da Internet” está com inscrições abertas
O que você faria se seus alunos criassem um grupo de Whatsapp entre eles e, de repente, se iniciasse um processo de ridicularização de um colega naquele ambiente digital?
Professora de sociologia na cidade de Maceió (AL), Glaucia Gonzaga deu apoio quando a direção da escola propôs uma intervenção. “Poderíamos dizer que, como se trata de algo para além do ambiente escolar, não era assunto nosso. Mas, a partir do momento em que são nossos alunos, mesmo que estejam em espaços de interação extra-escolar, temos como intervir e evitar que situações como essa possam se agravar”, comenta a educadora.
Assim, a escola criou um canal de denúncia anônima para identificar e atuar nesse tipo de situação. A professora, no entanto, sabe como é difícil ter uma solução ágil diante de um problema complexo. “Por isso, para além das ações imediatas, precisamos trabalhar com a formação em cidadania digital”, acredita. “Antes, dentro da escola, nós tínhamos uma dimensão de um bullying localizado; hoje não mais. As redes sociais ampliaram vozes que, ao mesmo tempo em que informam e ajudam, também podem prejudicar e praticar atos de violência.”
e-Cidadania
Em 2021, Glaucia realizou o curso “Cidadania digital: educando para o uso consciente da Internet”, disponível gratuitamente na plataforma Escolas Conectadas. Foi após a formação que ela teve a ideia de montar a eletiva “e-Cidadania”, com a intenção de formar cidadãos éticos e multiplicadores de boas práticas digitais. A disciplina, que ocorre no contraturno escolar, é ligada à área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e busca capacitar os estudantes para que possam alertar a comunidade sobre problemas que as pessoas podem encontrar na internet.
Segundo a docente, a eletiva é uma oportunidade para trabalhar diversos temas importantes e atuais, como cidadania digital, ciberespaço, cibercultura, redes sociais, fake news, segurança digital e cibertariado (uma nova classe de trabalhadores que desempenham atividades por meio de plataformas on-line). Até mesmo políticas públicas – como o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados – são abordadas durante as dez aulas que compõem a disciplina.
“Esses estudantes são de uma geração digital e aprendem desde cedo a interagir com essas tecnologias. Entretanto, cabe à escola, enquanto instituição socializadora, alertá-los dos perigos que se escondem nas plataformas digitais”, argumenta. “Hoje, a cidadania não é exercida apenas no mundo físico com eleições, grupos de bairros etc, mas também se faz onde existem novos espaços de interações sociais, como a internet. Esses espaços devem ser utilizados com responsabilidade e proteção, respeitando uns aos outros.”
Riscos do ambiente digital
E para exercitar a cidadania digital, nada melhor do que usar recursos digitais. A professora utilizou o Google Notas para montar um portfólio de cada estudante. Para as tarefas e exercícios, incentivou o uso de ferramentas como Padlet, Canva e Mentimeter, entre outros. Ao final da disciplina, os alunos produziram um curta-metragem com relatos de pessoas que tiveram problemas em relação à internet e às plataformas digitais.
A partir desse repertório, os alunos organizaram uma aula conduzida por eles, utilizando os vídeos que produziram e informando os demais sobre os riscos existentes no ambiente digital. “Tudo foi muito bem encaminhado e positivo, porque eles viram que os perigos não estão distantes deles. Pelo contrário, estão bem próximos, e puderam mostrar isso aos demais colegas que não fizeram a eletiva.”
Introdução à cidadania digital
A professora afirma: “foi graças ao curso que produzi a eletiva”. Elaborada em parceria com a Safernet Brasil, a formação “Cidadania digital: educando para o uso consciente da Internet” ajuda professores a incentivar o uso positivo, saudável e seguro da internet e das tecnologias entre os alunos. É totalmente gratuito, on-line e conta com certificado emitido por uma instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC).
“Essa formação me proporcionou uma base excelente para a produção dos materiais e das aulas. Ouso dizer que a eletiva é uma filha do curso”, aponta Glaucia. “Nós professores precisamos estar em constante formação. São formações assim que nos proporcionam ideias, abrem novos caminhos de trabalho e nos dão suportes para fazer aulas diferenciadas.”
Mais do que indicar o curso, ela acredita que deveria ser obrigatório para todos os educadores. “Vivemos hoje com novas tecnologias e novos espaços de interação social. Precisamos aprender sobre eles para ajudar a conduzir nossos alunos de forma ética e responsável. Não podemos virar as costas para as tecnologias e para as plataformas digitais; precisamos fazer delas nossas aliadas”, finaliza.
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